Professores do Brasil e do mundo afora têm se empenhado para se adaptar à nova realidade escolar durante a pandemia e, enquanto isso, são inúmeras as perguntas que surgem sobre como será a volta às aulas em 2021. Ainda em meio às incertezas que o momento apresenta, sendo as aulas presenciais ou remotas, uma preocupação é certa: como podemos ajudar os alunos a aprenderem melhor?
Sabemos que nem todos os alunos estão tendo oportunidade de acompanhar de forma adequada o conteúdo já modificado nas aulas online, seja por condições socioeconômicas, tecnológicas, metodológicas, emocionais, cognitivas e tantas outras. Portanto, como avaliar a aprendizagem nessas circunstâncias? A partir de quais conteúdos as aulas deverão iniciar no retorno às aulas presenciais? Como identificar as necessidades individuais e oferecer o suporte necessário aos alunos que adquiriram dificuldades ou tiveram suas dificuldades de aprendizagem intensificadas devido a realidade que o distanciamento social impôs? Como lidar com o gap que poderá ser encontrado entre os alunos com dificuldade e os alunos com bom desempenho? Essas são algumas das perguntas que certamente afligem a maioria de nós, professores.
Não há uma resposta fácil nem uma verdade absoluta para estas perguntas.
Especialmente no contexto nacional, em que se soma ao ineditismo da pandemia o fato de o Brasil ter dimensões continentais, com famílias, escolas e comunidades vivenciando realidades muito distintas. Contudo, há alguns princípios já estudados, que norteiam boas práticas e podem servir para nos direcionar, independente da região geográfica e de condições materiais de que dispomos. E é sobre isso que falaremos a seguir. Ao ler a descrição do modelo a ser apresentado, pedimos que esteja atento aos princípios que norteiam cada uma de suas etapas, de modo que, ao final dessa leitura, você se sinta apto a realizar, de acordo com sua realidade, um planejamento que dê a você e aos alunos um sentimento de foco e direção, na certeza de que longe de ser uma tortura, os dias que virão serão de aprendizagens significativas para todos nós.
Apresentamos o modelo de Resposta à Intervenção, conhecido por sua sigla em inglês RTI (Response to Intervention). O RTI tem sido aplicado em diversos países e tem se mostrado bastante eficaz como forma de melhorar o ensino de modo geral. Ao propor um ensino com base em evidências cientificas, o modelo ressalta a importância do uso de instrumentos de avaliação normatizados e válidos tanto no contexto clínico, quanto escolar (WAGNER, 2008; Institute of Education Sciences – IES, 2009).
Quando vamos a uma boa consulta médica, o clínico, antes de prescrever qualquer orientação ou medicação, ouvirá nosso relato e também estará atendo aos sinais que nosso corpo apresentará. O RTI parte desse mesmo princípio, o qual, se bem aplicado, poderá nortear todo nosso trabalho como professores. É essencial que estejamos atentos aos relatos dos alunos, bem como à identificação dos sinais de dificuldades que eles apresentam, para que possamos oferecer a eles a intervenção adequada.
Segundo Dias Seabra e Montiel (2014), para que haja a identificação e posterior remediação das dificuldades de leitura, por exemplo, é fundamental compreender os diversos processos cognitivos e habilidades que interagem resultando na complexa competência de leitura. Estudos demonstram que a identificação de possíveis dificuldades em uma dessas habilidades pode proporcionar intervenção apropriada, resultando em melhora significativa da habilidade e, consequentemente, um melhor rendimento em leitura de forma geral Joshi, et al. (2012). Podemos inferir que este princípio é também verdadeiro em relação à qualquer outra habilidade ou conteúdo ensinado em qualquer disciplina escolar.
O RTI combina um sistema de triagem universal, e preferencialmente inclui a aplicação de testes normatizados e validados que permitem verificar o aluno que apresenta rendimento abaixo da média de seus pares e, assim, direcionar as intervenções e tomadas de decisão dos professores, oferecendo progressivos níveis de apoio ao estudante (IES, 2009). Talvez você não disponha e nem tenha conhecimento sobre quais os tipos de instrumentos você poderia utilizar, ao final deste texto deixaremos algumas dicas de leituras que poderão te ajudar quanto a essas e outras questões. O importante é estar atento ao princípio da avaliação, do diagnóstico de como a turma está.
Vale ressaltar que nesse momento que vivemos, considerando os diversos fatores que interferem na aprendizagem, o ideal é que essa avaliação diagnóstica da turma não se limite aos aspectos acadêmicos, mas inclua aspectos emocionais, cognitivos e ambientais. É importante compreender, por exemplo, como os alunos estão se sentindo, quais são suas inquietações, como eles têm conseguido se organizar, manter a disciplina e um bom planejamento, quais têm sido suas dificuldades no contexto familiar.
Compreendida a importância da avaliação diagnóstica, seguiremos conversando sobre as intervenções. O modelo RTI, com o objetivo de prevenir e remediar as dificuldades de aprendizagem, se baseia em progressivos níveis de intervenção baseadas em evidências científicas. Chamamos esses níveis de intervenção de camadas. Originalmente, são 3 camadas que constituem o RTI. Veja:
Podemos então resumir esse modelo como uma abordagem que se fundamenta na resposta dos alunos a intervenções que os professores realizam, sempre baseadas em evidências. Acreditamos que nesse momento você já tenha percebido a importância do RTI na prática pedagógica, para tomadas de decisões de ensino. Decisões que envolvem questões sobre quais intervenções a serem realizadas, com qual intensidade e frequência, por quem e para quem. Decisões que auxiliam a elaboração de programas educativos individuais.
Pesquisas realizadas no Brasil e no mundo investigando a eficácia da abordagem RTI apontam que quando é ofertado ensino de qualidade, realizado o monitoramento do desempenho e as introduzidas intervenções adequadas às dificuldades específicas, os alunos conseguem progressos satisfatórios. Em suma, continue se capacitando e conhecendo quais são as intervenções mais eficazes para a sua disciplina e para o perfil de aluno que você atende. Antes de iniciar o ensino dos conteúdos acadêmicos propriamente ditos, avalie cognitiva e emocionalmente toda a sua turma. Utilize as melhores ferramentas que você tiver à disposição nessa triagem. Monitore o desempenho dos estudantes e ofereça apoio suplementar para aqueles que estiverem respondendo às intervenções de modo significativamente inferior aos demais alunos. Siga estes princípios e tenha um volta às aulas bem sucedido!
Dicas de instrumentos de avaliação*
Teste de Trilhas (aplicação coletiva ou individual)
Teste de Atenção por cancelamento (aplicação coletiva ou individual)
Teste de Desempenho Escolar TDE-II (aplicação coletiva ou individual)
Prova de Consciência Fonológica (aplicação individual)
*Verificar se o teste é normatizado para a idade da sua turma.
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